
Sendo considerado desde aquela época um dos naturalistas mais notáveis do século XIX, é considerado o pai da paleontologia e arqueologia no Brasil por conta de todas as suas pesquisas pioneiras no trabalho científico do país descrevendo minuciosamente a fauna de mamíferos dessa região e as mudanças ambientais que aconteceram desde o Pleistoceno.
Em 1818, forma-se em letras pela Universidade de Copenhague e logo inciou seus estudos em medicina, onde se formou na mesma Universidade, 1824. Seu pai, que havia falecido em 1820, lhe deixara uma bo herança. O que garantiu que logo Lund se dedicasse a suas materias preferidas, a história natural que incluia a botânica, fisiologa e principalmente a zoologia.
Após receber prêmios da Universidade pelas resoluções apresentadas em questões apresentadas, em 1825, publicou uma tradução do seu trabalho monográfico médico Physiologische Resultate der Viviscetion neuerster Zeit. Adotado entre os ensinos médicos em Viena em 1829.
Por conta de sua saúde frágil desde criança. Segundo consta sofreria de tisia, que matara dois de seus irmãos, resolveu mudar-se para um país de clima mais tropical e após deliberar, aptou pelo Brasil, em 28 de Setembro de 1825, levando consigo da Sociedade de Ciências de Copenhague alguns instrumentos metereológicos e um subsídio para custear suas pesquisas e envia-las ao Museu da capital.
Realizando várias excursões nessa província entre 1825 e 1829, incluindo uma a Campos, São Fidelix, onde encontrou indios coroados e coropos, a Serra dos Órgãos e ao vale do Paraíba acompanhado nessas ultimas de um diplomata dinamarquês, Barão de Loevenstern e sua família. Coletou grande quantidade de material botânico e zoológico, que enviava, em parte, para o Museu de História Natural da Dinamarca.
Ainda em 1829 retornou à sua pátria original onde concluiu e publicou alguns trabalhos.
"É indubitável que esta primeira viagem de Lund ao Brasil forneceu-lhe materia para muitos outros trabalhos [...]. Mas a pequena demora na pátria, em todo caso, era insuficiente para poder coordenar todo o grande material de estudos e observações por ele colhidas." - O naturalista Dr. Lund (Peter Wilhelm) sua vida e seus trabalhos. Rio de Janeiro Typografia Universal de H. Laemmert
Após isso, doutorou-se em filosofia pela Universidade de Kiel, e visitou universidades europeias, incluindo as de Berlim, Dresden, Praga, Viena, diversas cidades italianas, Paris e o Museu de História Natural de Paris, onde frequentou cursos de Georges Cuvier, ministrados no Collège de France, aderindo, profundamente, ao catastrofismo daquele naturalista francês.
Sua volta de vez ao Brasil ficou definida por ele próprio em carta ao irmão após a morte da mãe e que se dedicaria totalmente ao seus estudos, porém, teve que se demorar mais pois quando encontrava na Itália, estourou-se distúrbios no Rio de Janeiro seguida da abdicação do D. Pedro I em 1831 (1). Pensou em ir a Jamaica, por sugestão de um amigo porém, por lá também estavam havendo distúrbios entre os negros e as autoridades coloniais britânicas (2).
Em 1833, voltou definitivamente ao Brasil e ao lado do botânico Ludwig Riedel, viajando pelo Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás e Minas Gerais. O resultado dos estudos botânicos promovidos nesta expedição foram publicados em Observações a respeito da vegetação dos campos no interior do Brasil, especialmente fito-históricas, de 1835. Em Curvelo, Minas Gerais, encontrou outro dinamarquês, Peter Claussen, que o apresentou às grutas da região cárstica do vale do Rio das Velhas.
Peter Lund e colaboradores trabalhando em uma caverna.
Decidiu estabelecer residência em Lagoa Santa e estudou uma enormidade de fósseis encontrados nas centenas de cavernas entre Sabará e Curvelo. Dedicou-se também às pesquisas arqueológicas. Estudou as montanhas da Serra do Espinhaço, recolheu material e remeteu-os para a Sociedade Real de Antiquários do Norte, em Copenhague, junto com um memorial sobre o assunto.
Ao longo dos anos, a sua maior preocupação foi com a curadoria de sua coleção, a cargo do zoólogo Johannes Theodor Reinhardt (1816–1882). Ele também recebeu a visita de jovens naturalistas europeus, com destaque para o botânico Eugenius Warming (1841-1924). Além das visitas do Imperador Pedro II e do Duque de Saxe, filho da Rainha Vitória. O estudo completo de sua coleção, E Museo Lundii, só seria publicado pelos curadores desta na Dinamarca, em 1888.
Casa de Lund em Lagoa Santa após reforma; à esquerda o cientista. Por Augusto Riedel.
Em 1845, alegando falta de recursos, Lund terminou repentinamente o trabalho nas cavernas. Ele empacotou e doou a sua vasta coleção, com cerca de 20 mil itens, para o rei Cristiano VIII da Dinamarca. Um único exemplar de crânio humano encontrado por ele permanece no Brasil, no IHGB. Permaneceu em Lagoa Santa pelo resto da vida. No início de 1880, Lund ficou doente e morreu de forma tranquila em 25 de maio.O enterro ocorreu com muita música tocando durante todo o cortejo até o cemitério e toda população da cidade de Lagoa Santa seguiu o caixão.
Em 1842, segundo um relato seu, já tinha explorado mais de 200 cavernas na região e descrito 115 espécies de animais - entre os quais o célebre tigre de dentes de sabre (Smilodon populator). Em 1843 encontrou na região vestígios de homens pré-históricos, cujos estudos definiram as características daquele que ficaria conhecido posteriormente como o Homem de Lagoa Santa.
Os trabalhos de Lund levaram à identificação de 150 espécies de mamíferos que habitavam a região desde o Pleistoceno, fazendo de Lagoa Santa a região mais bem conhecida do Brasil em termos de fauna de mamíferos.
ilustração de Lund examinando pinturas rupestres
As descobertas de fósseis humanos levaram Lund, em 1842, a escrever uma carta ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, publicada naquele mesmo ano e intitulada “Sobre a antiguidade do homem de Lagoa Santa”, onde ele discutiu se aquelas ossadas fósseis, uma vez que se encontravam em estratos geológicos que também continham fósseis da fauna extinta. Esta constatação contrariava a premissa do catastrofismo de Georges Cuvier, de que as faunas extintas por catástrofes ocorridas em diferentes momentos, não poderiam estar contidas no mesmo estrato geológico. Esta anomalia na teoria catastrofista levou-o a um questionamento desta teoria, que pode ter contribuído para a súbita interrupção dos trabalhos de Lund.

Em sua obra-prima, A Origem das Espécies, Charles Darwin menciona a admirável coleção de ossadas fósseis recolhidas nas cavernas do Brasil por Lund, que se encontra no Museu de História Natural da Dinamarca, em Copenhague. Peter Lund tem vários táxons nomeados em sua homenagem, dentre eles o gênero de roedor semi-aquático Lundomys e a espécie de rato-de-espinho arborícola Phyllomys lundi. Publicou várias memórias em dinamarquês (E Museo Lundii), ricamente ilustradas com pinturas do norueguês Peter Andreas Brandt (1791-1862), que foram organizadas e traduzidas para o português em 1950 pelo paleontólogo Carlos de Paula Couto (1910-1982), sob o título Memórias sobre a Paleontologia Brasileira. O Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro possui uma placa em homenagem a Peter Wilhelm Lund (imagem acima)
FONTES
NOTAS
(1) - FERNANDES, Cláudio. "Abdicação de Dom Pedro I"; Brasil Escola. Disponível em Brasil Escola. Acesso em 03 de agosto de 2017.
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